Aqueles andares escuros me lembravam as sombras da insanidade onde a tênue linha da razão teimava em existir, ou o poço da Samara mesmo. Parecia que eu estava caminhando a horas quando vi a luz negra no fim do túnel, eu devia estar delirando mesmo. Mas me aproximei e vi que aquilo era um buraco na parede do prédio e de lá era possível ver o prédio vizinho. Engraçado, eu não me lembrava de ter passado por isso enquanto descia. Foi então que me perguntei pela primeira vez "afinal de contas... em que andar que eu to?!". Eu vinha marcando os andares mentalmente mas comecei a pensar sobre os grandes mistérios da vida como por exemplo o por que de a bebida 'Boa Noite, Cinderela' ter esse nome se na verdade quem dorme é a Bela Adormecida, e assim eu perdi a conta no 3° andar. Trágico.
Resolvi sair naquele andar só pra saber quantos andares eu teria de descer, e se tivesse sorte talvez uma alma caridosa me oferecesse uma lanterna, um holofote ou um vaso cheio de vaga-lumes, qualquer coisa serviria. Saí e encontrei uma porta semi-aberta de onde uma mistura do som de uma harpa com o de um prato sendo arranhado formava um ruído estranhamente agradável. Aquilo me lembrou aqueles filmes de terror onde as vítimas são atraídas para o perigo pelas coisas mais bestas. Pra seguir o roteiro eu resolvi entrar. As paredes da sala tinham um tom laranja-que-acabou-cair-do-pé-e-uma-criança-de-pés-sujos-acabou-de-pisar-em-cima e o chão tinha um tom azul-pupunha quase que tão grotesco quanto as paredes. Não haviam móveis, apenas algumas caixas de papelão. Parece que alguém havia acabado de se mudar. Eu estava contemplando essa decoração estilo psicopata pós-moderno quando quase fui atropelada por um sujeito franzino de moleton que andava em um monociclo enquanto tocava violino. Ao me ver ele parou o que estava fazendo, sorriu e com um ar de estranha familiaridade ele disse:
- E então, o que é que vai ser? Jujubas ou almôndegas?
me sinto tão louca lendo esses textos :P
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